O consultório é um lugar de análise. Que fatores imediatos ou passados, concretos ou simbólicos levam a pessoa a agir como age? Quais as consequências surgem desse modo de agir, que significado ou valor ele tem para a pessoa? O que ela está disposta a fazer para mudar o que deseja mudar depois de saber porque age assim e quais as consequências já presentes ou que podem vir a ocorrer? Ou seja, não é um lugar em que o terapeuta está como um “respondedor” das questões de quem o procura, mas quase o contrário, é o lugar em que o terapeuta faz surgir as questões que levam à essa análise para que a pessoa decida como agir em relação à própria vida.
Aí, surgem dois pontos importantes. Primeiro, quando a pessoa escolhe, consciente de sua escolha, ela aumenta sua autonomia, mas principalmente sua responsabilidade sobre as suas escolhas e, consequentemente, sobre as consequências que terá que arcar pelas escolhas feitas. Segundo, para um terapeuta que não assume esta postura, pode ser um drama ver o cliente fazer escolhas que podem levar a consequências danosas à médio e longo prazo. Ou o terapeuta não entendeu o processo da análise e seu resultado – que a pessoa tem seus motivadores para fazer essas escolhas e todos eles são legítimos – ou assume o papel leigo de aconselhador, onde vale o “no seu lugar eu faria isso” e desrespeita por completo a lógica de que é impossível estar no lugar do outro. Ou seja, o terapeuta fala de si, usurpando o lugar do cliente/paciente.
Fazer terapia custa caro em vários sentidos, mas o mais caro e valioso é o preço de ser responsável por suas escolhas cada vez mais, no sentido em que avança sua consciência sobre os fatores que influenciam como ela age.

 

Sobre o Autor
Ricardo R. Borges é Psicólogo Clínico Comportamental – com consultório no CEMEB – Centro Médico Bueno – Goiânia, GO.
Especialista em Psicopatologia pela PUC GO

 

Sugestões de leitura

  1. CALLIGARIS, C. (2008). Cartas a um jovem terapeuta. Rio de Janeiro: Elsevier.